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CAMPANÁRIO

SignificadoS

1.
Torre da igreja onde ficam os sinos.

2.
A abertura da torre onde se encaixam os sinos.

O bairro diademense de Campanário   tem 1,959 km² - 29.630 pessoas, segundo dados do   IBGE de 2016. De relevo acidentado, até os anos 50 o bairro era formado pela densa Floresta Atlântica e por diversas chácaras desde a década de 40. Nessa época as terras começaram a ser desmatadas e loteadas. O Jardim Paineiras é um de seus primeiros loteamentos e data de 1958. Possuía uma área de 147.551 m2. 

No ano de 1967, com a desativação da favela do Vergueiro pelo então prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, centenas de pessoas se deslocaram para a região, atraídas pelos terrenos de baixo valor e pela proximidade com o município de São Paulo.

O bairro Campanário foi construído a partir da luta e mobilização dos moradores(as). A ocupação do território no final dos anos 80 se deu em meio a luta dos moradores(as) para conquistar o direito de moradia e os recursos básicos para a comunidade.

O bairro abriga importantes referências da história cultural preta da cidade como a Comunidade Negra do Campanário e a Pastoral do negro. Podemos dizer que a história dessas frentes culturais negras, são basilares para o movimento negro da cidade e merecem ser conhecidos e reconhecidos pela sua contribuição a arte e cultura de Diadema.

Comunidade Negra do Campanário

Por Luana Levy

A Comunidade Negra do Campanário é um grupo sócio educativo cultural de fortalecimento do povo preto e enfrentamento do racismo, nascido em 1996. O grupo não tem uma sede, e seus encontros acontecem em espaços públicos como o centro cultural Vladimir Herzog, localizado no campanário zona norte da cidade de Diadema, espaço de desenvolvimento de muitas ações do grupo.

Segundo Márcia Damasceno, atual coordenadora da Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CREPPIR) e uma das fundadoras da Comunidade Negra do Campanário, em 1995 a pastoral negra na época da paróquia São Pedro Apóstolos, procurou as lideranças comunitárias em sua maioria de mulheres negras para planejar uma missa em homenagem a Zumbi de Palmares e as comemorações de seus 300 anos.

 

Após o evento em homenagem a Zumbi, o grupo sentiu a necessidade de produzir algo para além da religiosidade, pois a produção da apresentação de dança trouxe ao grupo um grande repertório cultural, estético e de conhecimentos das relações étnicos raciais, importante inclusive para um processo de fortalecimento pessoal, e urgente de se compartilhar.

Nesse sentido era necessária uma nova organização que focasse nesses conhecimentos e não apenas no dia 20 de novembro (dia da morte de Zumbi dos Palmares que se torna o dia da Consciência Negra) e a escolha de espaços públicos que apoiassem um grupo que se colocaria a partir de então como um grupo artístico de pesquisa e valorização da cultura negra.  O Centro Cultural Vladimir Herzog, foi procurado para que pudessem ensaiar e dar continuidade às atividades, mas elas ainda precisavam de um nome:

 

Nós éramos um grupo e todas vinham de comunidades, mas comunidades com nome de santo e nesse momento não tinha nada a ver dar nome de santo essa era iniciativa fora da igreja, então ficamos Comunidade Negra, pois éramos todas negras e do Campanário porque todas nós também morávamos lá (Márcia Damasceno).

 

E assim nasceu a Comunidade Negra do Campanário, unindo-se pelas semelhanças e buscando ampliar e multiplicar os estudos e conhecimentos relativos às relações étnicos raciais através de apresentações de dança e formações.

Essa história continua com a escolha da coordenação artística de Jurandir de Souza/ Babalorixá Jurandir de Xangô, que teve sua identidade negra construída dentro das religiões de matriz africana, no terreiro de mãe Glória localizado na rua em que morava. A trajetória do Babalorixá passa por formações de dança em oficinas na cidade de Diadema e outros espaços de vivências e cultura negra, como as coreografias criadas para a comissão de frente de escolas de samba. 

Rose Maria o convidou afirmando que existia um grupo de mulheres que já estavam desenvolvendo algumas coreografias com as quais ele se identificaria e que poderia ser uma pessoa importante para auxiliar no processo. Jurandir foi e encontrou de fato com um grupo de mulheres com as quais se identificou e iniciou com elas um trabalho que envolvia respeito religioso e fortalecimento feminino.

Segundo ele, o processo de criação era muito intenso respeitoso e de troca, a Comunidade Negra do Campanário era uma família, onde uma mulher cuidava da outra, não apenas no que tange a criação artística, mas também na superação das dificuldades cotidianas uma ia dando força pra outra e assim iam..

 

Segundo Márcia Damasceno, o grupo era formado por mulheres com diferentes idades, muitas mães solos, ou avós que estavam com seus netos e levavam as crianças para os ensaios. Essa especificidade as fez organizar o espaço para as crianças ficarem, enquanto o grupo ensaiava, também havia  um lugar para deixar alguma coisa para comer, pois tinham pessoas que vinham direto do trabalho ou da escola. A ideia do grupo era de fortalecimento e isso fez juntar um grupo muito unido, cada uma com um ponto de partida, mas todas com o objetivo de dançar e se empoderar de sua própria cultura.

Entretanto, quando o grupo iniciou as apresentações nas escolas e espaços culturais, começaram a vir os embates, os preconceitos religiosos, e o racismo. Era comum em suas apresentações a Comunidade Negra do Campanário sofrer ofensas raciais verbais, segundo Márcia Damasceno, constantemente as meninas eram xingadas e chamadas de macumbeiras e isso enfraquecia a autoestima delas.

Isso gerou uma mobilização interna no grupo, na qual os membros que já tinham uma identidade negra mais fortalecida se juntaram para combater a própria opressão vivida pelo grupo.

Jurandir com a expressividade cultural e pesquisas temáticas para as coreografias buscava melhorar essa autoestima massacrada até ali, enquanto Márcia trazia as pesquisas mais acadêmicas, para compartilhar com elas e com os espaços, passando a ser marca da apresentação do grupo uma palestra de 10 minutos que explicasse os elementos africanos usados, aà pesquisa corporal e a importância da cultura negra em nossa sociedade para somente então realizarem a apresentação de dança.

 

O grupo já se inscreveu para muitos fomentos, mas nas etapas finais eles perderam para comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas entre outros, demonstrando que há uma necessidade de fomentos para espaços que possuem um engajamento de resistências pretas em espaços urbanos.

Jurandir entende a força e história da Comunidade Negra do Campanário, não apenas pelas criações artísticas, mas orgulha-se de saber que a Dádila, Filha da Dalci uma das fundadoras, hoje consegue ser reconhecida como dançarina e professora de dança, e seu espaço de sensibilização foi à Comunidade. Ela era uma de tantas crianças que brincavam e participavam daquele espaço em que havia o momento da criança brincar, da criança participar, de estar todo mundo junto, de uma apoiar a outra dentro de cada desafio, de costurar junto, de criar estratégias de produção, de resistir.

 

Ainda hoje a Comunidade Negra do Campanário atua na cidade apresentando coreografias em espaços culturais, e eventos como a Kizomba e as Águas de Iemanjá tradicionais na cidade de Diadema.

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