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ELDORADO

SIGNIFICADOS

1.
Cidade ou país fictício que exploradores do XVI afirmavam existir na América do Sul. A lenda do Eldorado, que se fundava na crença de uma cidade repleta de ouro, cujo príncipe tinha também o corpo dourado, foi ouvida pelos espanhóis que se fixaram, no século XV e XVI, nas costas da atual Colômbia e Venezuela, então chamada Terra Firme ou Terra Santa. A busca do Eldorado, que levou os europeus até ao Brasil, persistiu até meados do século XVIII.

 

2.
Local pródigo em riquezas e oportunidades.

O Eldorado fica na região sul de Diadema, é o bairro mais populoso da cidade, com 43.571 pessoas habitando 6,690 km2, segundo dados do   IBGE de 2016. A área conta com diversos núcleos habitacionais e há muitas construções improvisadas e impasses em ocupações de áreas de mananciais.

Nosso interesse em iniciar as pesquisas para o Cartografia Adè Oná no Eldorado tem a ver com a nossa percepção sobre o grande número de pessoas negras do bairro e também a atuação de ONGs nesse território, o que aponta de certa forma, a sua vulnerabilidade social. 

No ano de 2018 atuei como educadora em uma dessas ONGs e pude acompanhar de perto o quanto de potência artística cultural preta estavam intrínsecas nas histórias contadas pelos moradores e moradoras do bairro. Da força das escolas de samba nos anos 80 até os acessos à cultura e arte proporcionados de forma independente, a produção artística preta sempre existiu e resistiu como um dos muitos caminhos para expressar dores, forças e anseios de dignidade e acesso aos direitos humanos básicos para a sobrevivência de qualquer população.

Se o nome Eldorado significa” local pródigo em riquezas e oportunidades” a realidade deste bairro, que já abrigou clubes frequentados pela alta sociedade de São Paulo encontrou em mãos e braços pretos a força para buscar  se reerguer em meio a grande vulnerabilidade, desejando  encontrar  outros caminhos para aquilombar-se em busca da  riqueza e oportunidade possíveis  apenas através de luta e resistência.

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ELDORADO - IDAS E VINDAS

Por Shirley Maia

 

 

A ida não anunciava os encontros. A chegada ao terminal, sentar-se no banco do 31, não prenunciava o encanto que nos esperava.

Durante o trajeto, a conversa sondava amenidades, desabafos, trocas e buscas. Logo na descida no ponto indicado pelo aplicativo avistam-se outros olhares, os mesmos vistos no reflexo do espelho de ambas que com certeza se viam.

O Silêncio durante a subida do escadão denotava a fadiga pela falta de exercício, porém rememorava outras moradas. Locais parecidos, iguais.

Todas as vielas, morros, aterros e curvas da periferia são parecidos. Elas têm o mesmo desenho, corpo, contorno e desalinho.

 

A entrevista amiga, singela, comparativa e histórica do morador local descreve a “evolução” de uma contínua mistura do que nunca se foi.

Coração acelerado. Repleto de perguntas que seguem seu caminho buscando tornar tangível a história. Curiosidades. De frente ao que parecia ser um pequeno bar, um homem e duas crianças, do olhar fotogênico surge à premissa, registrar o momento que mais se parecia com a esquina das antigas moradas.

Levado pela curiosidade um dos garotos perguntou: “vai sair no jornal?”. Ao circundar o que fora a Praça do Samba, o historiador local nos relata sua funcionalidade. Tudo girava em torno do Samba.

 

Com os olhos cerrados, forma-se a imagem do passado que estruturou o local. O nome “praça do samba hoje é lenda, que perpassa apenas a memória dos mais velhos vivos e dos que vivenciaram sua grandeza”.

O historiador, nos permite voltar ao tempo, o Tempo do Samba na praça do Eldorado, da formação da escola, de suas idas e vindas. Do la ai la ia....

Ao redor da Praça, nota-se o cheiro da vida passada-presente, ouve-se os passos marcados dos que ali festejavam suas alegrias, dores e amarguras. Na rua à frente, rente ao muro, pensam avistar um amontoado do que parecia ser uma plantação de milho. Não. É apenas mato, de uma folha grande e espessa que encobria a parte debaixo do bairro. Aproximam-se e avistam a plenitude de ser Eldorado. Do Alto, de trás do mato avistam moradas que abrigam vidas, alegrias, esperanças mais vidas, mais alegrias mais e mais.... A conversa permanece. Os olhares atentos ao redor, as pessoas, comunitários de hoje que também nos olham. O que pensam?

Seguimos em direção ao campinho, local onde aconteciam os jogos dos times de Várzea. É sabido que times de Várzea são grandes historiadores. Guardam memórias. Avistam uma casa Azul local onde os times de bairro preparavam para os jogos, hoje destinado a outros fins.

 

A vegetação chama a atenção do grupo. Aquela Flor, nascida do mato espesso avistado no início da Rua.

Um Morador com sua enxada em mãos capinava e limpava o local, enquanto Crianças arrumam madeiras no chão de terra para brincar... Eles seguem escutando atentamente as explicações do historiador que já fora um membro do Time de Várzea. Aproximam-se do Morador e de sua enxada, Ele mostra sua casa, construída por ele sozinho, conta sobre o trabalho, discorre sobre a descrença dos vizinhos e orgulha-se de seu trabalho, do lado

esquerdo do terreno, com muita simpatia mostra a todos sua plantação; Cebolinha, Manjericão, Hortelã e Abacaxi. Brinca ao relatar que há cobras no local e nos leva onde podemos colher alguns punhados de ervas, para chá e tempero.

Em todo o trajeto, pelas calçadas há plantas, Boldo, Comigo ninguém pode e Espada de São Jorge plantado pelos próprios moradores em pneus usados. Tudo é perfeito, enfeitado, perfumado e cuidado. Não vemos desalinho.

Antes do término, compramos fruta, geladinho e paramos na barraca de um mais velho que vende ervas...

Nada em Desalinho...

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